segunda-feira, 27 de outubro de 2008

ANÁLISE EXSTENCIALISTA DO LIVRO: VIDAS SECAS, DE GRACILIANO RAMOS


O existencialismo é uma filosofia clássica, consolidada, referência obrigatória para qualquer um que queira pensar a realidade humana. Utiliza uma ontologia (teoria do ser da realidade) elaborada a partir da dialética da objetividade com a subjetividade, e uma antropologia (teoria do ser do homem), que enfatiza a relação indivíduo/sociedade e coloca o homem como sujeito da história social, na justa medida em que é sujeito de sua história individual, ou seja, o existencialismo compreende a personalidade como resultante dos processos sócio-histórico de relações entre a materialidade, a cultura, a família, em fim, entre as relações sociais e sociológicas e a apropriação ativa realizada dessa realidade pelo sujeito, concretizando-se em sua “experimentação de ser”.

(VIDAS SECAS)

Fabiano, Sinhá-Vitória e os dois filhos formavam uma família, foram constituindo sua personalidade, com o decorrer do tempo, pois inicialmente (ao nascer) eram somente corpo/consiência (O corpo é o primeiro contato com o mundo, a consciência é a condição, inevitável, de estabelecer relações. Dessa forma, o sujeito é um conjunto de relações: com a materialidade que o cerca, com seu corpo, com o tempo, com os outros).

Um fator de grande importância é a temporalidade, pois a humanidade deles construiu-se pelas suas historicidades. A temporalidade é uma estrutura organizada nos três elementos: passado, presente, futuro. A dimensão psicológica caracteriza-se por ser resultante da síntese das três dimensões da temporalidade.

Provavelmente Fabiano e Sinhá Vitória, antes de casar tinham suas histórias de vida individuais, foram criados meio a famílias diferentes, com crenças diferentes, que possibilitaram a eles se humanizar ( Homem como ser-no-mundo: o homem só se humaniza por estar inserido em um mundo que lhe possibilita contornos existenciais. O homem encontra-se inserido em condições materiais, sociais, familiares, existenciais concretas e é no processo de apropriação dessas condições que constitui sua subjetividade, que imediatamente se objetiva, através de seus atos, seus pensamentos, suas emoções).

No decorrer do livro, percebe-se a diferença entre os dois, Sinhá Vitória apresenta ser um pouco mais “inteligente” que Fabiano, tanto que na fazenda na hora de acertar as contas, era ela quem fazia as contas para Fabiano levar ao patrão.

A forma que Fabiano falava, demonstrava que anteriormente seu convívio era com pessoas de pouco estudo, talvez sem nenhum, mas apesar de ele se envergonhar com seu jeito, ele admirava a forma que o povo da cidade falava. Fabiano apresentava ser uma pessoa simples, de pouco conhecimento, bruto, orgulhoso, bravo, mas com muitos sentimentos em relação aos filhos e as esposa. Essas características que Fabiano demonstrava, foram construídas no decorrer de sua vida (Sujeitos e grupos: Os sujeitos nunca estão isolados. A família é um dos principais grupos segundo Sartre, devido a sua função mediadora para os sujeitos concretos. O papel mediados da família na estruturação do projeto de ser do sujeito é fundamental). A família era muito pobre, passava por muitas dificuldades e na verdade não possuíam nenhuma casa própria para morar, no inicio da história fugiam da trágica seca do sertão nordestino. Mas Fabiano e Sinhá Vitória estavam sempre com esperança de um dia as coisas melhorarem e eles poderem levar uma vida melhor (desejo de ser: é o combustível da dinâmica psicológica.), inclusive o sonho de Sinhá Vitória era ter uma cama de lastro de couro, esse sonho dela era muito citado no livro (projeto: é uma busca do sujeito em realizar o seu desejo de ser, pois o homem está sempre indo em direção ao futuro. O projeto é realizado pelo desejo de ser.). Os dois meninos, (o menino mais novo e o menino mais velho, como eram citados no livro) estavam sendo criando naquela trágica situação(A relação com a materialidade que nos cerca: É a primeira condição de existência humana. Todos nascemos inseridos em uma dada sociedade, em um certo momento histórico, incluído em um certo conjunto de relações sociais, com determinadas culturas que nos remetem, necessariamente, ás condições matérias que estamos inseridos.), O menino mais novo parecia não ter nome e nenhuma forma comum de se comunicar, pois moravam distante de todos, o único grupo de contato era a família, e estes não conversavam muito( observa-se através da leitura do livro que a construção da personalidade dos meninos, eram “conseqüências” das relações, da influência do meio, da “materialidade e dos “sujeitos e grupos”, pois não havia estímulos para eles aprenderem, conversarem com palavras “ricas” e etc. ).A única aspiração do menino mais novo era ser como o pai Fabiano, ele ficava imaginando o dia em que poderia montar uma égua e guiar o gado, ao lado do pai, fazendo inveja para todos, até para o irmão mais velho (desejo de ser). O menino mais velho era muito apegado à cachorra baleia (cachorra que acompanhava a família), era sua melhor “amiga”. Quando surgia a curiosidade de compreender algumas coisas, ele questionava Sinhá Vitória, mas esta nunca lhe respondia apenas prometia dar-lhe uns cascudos se ele continuasse a fazer perguntas (tal acontecimento foi quando Sinhá Vitória reclamava da vida e pronunciava a palavra “inverno”, o menino queria saber o significado da palavra), com a negação da mãe ele se afastava e ia ficar com a cachorra, e conversar com ela (Relação eu/outro: o outro é o mediador indispensável entre mim e mim mesmo. Na relação com o outro superamos conflitos, compartilhamos projetos, dividimos situações, tomamos decisões conjuntas), claro que a relação entre os membros da família tinha um importante significado para cada um, mas notava-se muito um vinculo muito grande entre o menino mais velho e a cachorra, ela sempre lhe servia como refugio. Destacando então neste parágrafo a relação do menino com a família e com a cachorra.

No inicio do livro é citado que eles fogem da seca do sertão, e posteriormente encontram uma fazenda “abandonada”, onde então habitam nela. Com o passar do tempo, a vida na fazenda, devido à seca novamente, se torna muito difícil, e Fabiano juntamente com a família tem que deixá-la (fugir). Foram em direção ao Sul, novamente em busca de uma vida digna, justa e melhor. Sonhavam em encontrar uma cidade grande, cheia de pessoas fortes, e seus filhos irem para a escola. A esperança sempre os acompanhavam( desejo de ser).


Talita Silveira Barrin.


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